sábado, 24 de março de 2018

MEU PAI ERA RACISTA



Grupo de Estudo "Allan Kardec", venho contar uma história da minha infância, neste dia internacional contra a discriminação racial. Meu pai teve uma infância muito difícil, foi criado pela tia que era dona de um prostíbulo. Ela era severa, segundo contou meu tio, irmão de meu pai. Comportamento de pessoas da época. Ela cuspia no chão e dizia: "vá e faça o que estou mandando, se este cuspe secar e você não tiver de volta, vai apanhar." E apanhava mesmo. Ele era retraído, tinha apenas um amigo. Nunca contou ou falou de sua infância. Casou-se com minha mãe e teve os filhos, dentre eles eu, a única menina e raspa do tacho, como diziam os mais velhos. Ele era militar, preconceituoso e costumava ser severo com os presos. Até que um dia resolveu estudar sozinho leis penais. Ele conhecia tanto de leis que me lembro de advogados o procurando para tirar dúvidas. Ele fazia documentos dentro e fora do batalhão reivindicando direitos às viúvas de militares, sem cobrar nada, mesmo depois de aposentado. Foi aí que ele deixou de ser preconceituoso e violento com os presos. Ele dizia que racismo e desrespeito com os presos era ignorância. Racismo ele aboliu de sua vida graças a doutrina espírita que também passou a fazer parte de seus estudos e a violência foi graças aos estudos da lei. Ele dizia: "Aquele coitado que eu prendia porque fazia arruaça por causa da pinga, era quem pagava meu salário." Um dia, ele me deu uma boneca, e ela era de plástico duro e na cor preta. Eu amava aquela boneca. Era uma maneira dele me dizer: "Não seja racista." Hoje, conversando sobre racismo, minha mãe lembrou dessa boneca e eu achei interessante contar a vocês. O boneco era como esta da foto. Deu saudade. Que Deus abençoe meu pai onde ele estiver.

Rudymara





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