No início da década de 70, Chico Xavier saboreava um cafezinho em conhecido estabelecimento comercial, na Praça Rui Barbosa, em Uberaba, em companhia do Dr. Jarbas Varanda e de seu filho Luciano Varanda, quando eles percebem a aproximação de uma senhora, conhecida sob a alcunha de Maria Boneca, vivendo no clima de uma loucura pacífica, mas que chamava a atenção de toda a comunidade. Muitas pessoas a ridicularizavam e brincavam com sua insanidade, já que Maria Boneca retinha, entre os braços, uma boneca que considerava como filha.
Maria Boneca, ao perceber a presença de Chico no interior do estabelecimento afasta-se daqueles que a ridicularizam e dirige-se ao seu encontro. E, fato inusitado, ao se aproximar de Chico, ela recupera temporariamente sua lucidez e conversa com o Chico naturalmente, como se fossem grandes amigos. Ao se despedir, abraça o inesquecível amigo, beija-lhe as mãos e se afasta. Do lado de fora do estabelecimento, ela volta a ser a Maria Boneca de sempre, vivendo em suas próprias imagens mentais.
Chico, com toda a espontaneidade, relata ao Dr. Jarbas:
- Como somos abençoados, acabo de ser abraçado por uma rainha de França.
Algum tempo depois, o livro intitulado “Mãe” traz um poema do Espírito de Epiphanio Leite, em mensagem psicografado por Chico Xavier, retratando o drama de Maria Boneca cujo conteúdo retratamos abaixo:
MARIA BONECA
Epiphanio Leite
(Versos dedicados à dama feudal que abraçamos por devotada amiga, há três séculos, e que hoje expia, na via pública, sob a alcunha de Maria Boneca, o delito de haver exterminado o filho jovem que lhe estorvava a existência de irresponsabilidade e prazer.)
Reencontrei-te, por fim, esmolando na rua.
Nada recorda em ti a dama do castelo.
Lembro-me!... Dás à fossa o filho louro e belo.
Esqueces, gozas, ris... E a festa continua...
Depois, a morte vem... A memória recua...
Escutas em ti mesma o trágico libelo. (acusação)
Choras, nasces de novo e trazes por flagelo
A sede de ser mãe que a demência acentua!...
Como dói ver-te agora os tristes olhos baços! (q não possui brilho)
Guardas, louca de amor, um boneco nos braços.
Em torno, há quem te apupe (vaie) a trilha merencória... (melancólica)
Mas bendize, senhora, a lei piedosa e austera.
Alguém vela por ti: o filho que te espera
E há-de levar-te aos Céus em cânticos de glória!...
OBSERVAÇÃO DE RUDYMARA: Um espírito que, para viver as alegrias passageiras do mundo, abortou, jogando-o na fossa, para que ele não a atrapalhasse. Depois da morte física a memória vem a tona trazendo remorso e acusação causando muito sofrimento no plano espiritual. Até que ela reencarna com perturbações mentais causada pelo remorso e acentuada no corpo carnal pelo desejo de ser mãe e não poder. Por isso, ela perambulava pelas ruas com uma boneca nos braços , sem brilho nos olhos, ouvindo chacotas de quem, sem piedade, a humilhava. Mas, ela deveria aceitar a lei divina que é piedosa, por dar oportunidade de reparação, e implacável porque é necessário colher o que plantamos. Aceitar sem se revoltar faz com que ela seja recebida após a desencarnação pelo filho que a espera para dizer a ela: "alegra-te, resgataste com louvor seu delito, venha se deleitar em um lugar melhor."
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