segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

DIVALDO E O LEPROSO JÉSUS GONÇALVES



Quando eu (Divaldo) era jovem, no ano de 1949, estava orando no quintal de nossa casa, num belo dia de primavera. Tomado pelo encanto da natureza, chorava no enlevo da prece. Naquele estado, entrando em contato com o mundo parafísico, eu vi aproximar um ser espiritual, que claudicava (mancava) da perna direita e, olhando-lhe o pé, vi a deformidade oculta em trapos que o envolvia. Apoiava-se a um bordão; as vestes pareciam muito modestas, gastas e, quando lhe olhei o rosto, tive um choque; as fossas nasais estavam à mostra, a boca meio torcida, as abas das orelhas eram longas, mas, nos olhos enceguecidos aparentemente, havia uma luz mirífica que me fascinou. Na minha suprema ignorância de principiante, quando vi o Espírito com aquele aspecto, disse mentalmente:
- Meu Deus! Deve ser algum obsessor. Eu estou orando e o atraí. Vou envolvê-lo numa onda de infinita ternura . . .
Tomado por essa emoção, comecei a falar-lhe que pensasse em Deus, que se entregasse a Deus . . . quando lhe ouvi a voz, que me pareceu um canto inesquecível:
- Eu não sou um embaixador celeste, mas, tampouco, um obsessor. Sou teu irmão, que vem desde priscas eras carpindo as imperfeições. Venho hoje pedir-te ajuda para os irmãos encarcerados no mal de Hansen . . .
Eu procedia de uma cidade do interior, onde a palavra lepra era um estigma tão cruel, que ninguém a pronunciava. Quando alguém era acometido do mal de Hansen, a ignorância popular dizia:
- Está com aquela doença.
Porque se acreditava que, ao se pronunciar a palavra, a pessoa se contaminava. Eu ainda mantinha essa idéia absurda, apesar de estar com quase 20 anos.
Quando ele disse: Eu sou portador do mal de Hansen, pensei: Ele é um leproso! E tive medo que a enfermidade me contaminasse. Tratava-se de um mecanismo automático do meu inconsciente, leproso moral que eu era e sou, certamente.
Naquele momento, ele disse-me:
- Venho pedir-te uma coisa, Divaldo. Os nossos irmãos, internados no sanatório de Águas Claras, estão precisando de uma palavra amiga. Eu gostaria que fosses lá para visitá-los. . .
Tomado de espanto, redargui:
- Eu ir lá? Ir visitar o leprosário, não irei nunca! O senhor me perdoe. Não tenho coragem . . .
Ele sorriu e começou a transfigurar-se diante dos meus olhos. Onde havia aquelas deficiências, passou a formar-se um semblante de luz, que não era refulgente, mais parecendo uma claridade interior que se exteriorizava; os olhos adquiriram um brilho fascinante; ele tomou uma postura nobre; as vestes se modificaram:
- Eu sou teu irmão Jésus Gonçalves. Desencarnei há pouco tempo na colônia de hansenianos em Piratiningui. Venho pedir-te para que vás ao leprosário . . . Queres ir?
Respondi, emocionado:
- Quero, sim, senhor!
- Então vá e dize-lhes que um seu irmão, que os ama, estará ao seu lado. Quando lhes fores falar, eu estarei contigo . . .
Foi assim o meu primeiro contato com os padecentes de hanseníase. A partir de então, graças a esse venerando Espírito, já visitamos, no Brasil, quase todas as colônias de que temos conhecimento, assim como em outros países . . .

Divaldo conta que conheceu dona Eunice Weaver, que se tornou a "mãe dos filhos dos hansenianos" e evitou que milhares de crianças se contaminassem. Após desencarnar, apareceu radiosa para Divaldo, onde escreveu a mensagem "Marcados na Alma", onde faz uma análise dos portadores da hanseníase moral, que é a enfermidade entrando, e dos portadores da hanseníase física, que são aqueles que tem a enfermidade saindo.
Os que hoje estão marcados na alma, pelos danos praticados contra si mesmos, através do seu próximo, a quem prejudicaram em vidas passadas, inevitavelmente serão os portadores da hanseníase, das degenerescência cancerígena de hoje ou de amanhã.
Jésus Gonçalves, por exemplo, foi em uma de suas encarnações, Alarico, rei dos visigodos, um guerreiro extremamente cruel. Por onde ele passasse com seus exércitos, deixava destruição, ruína, desespero e morte; e ao sair, ateava fogo nas aldeias e cidades, para que nada mais restasse... Por muitos séculos ainda, em outras existências, espalhou dores e sofrimento a muitas pessoas, até o dia em que arrependido, ele começou a melhorar sendo amparado pela providência divina. Reencarnou muitas vezes, e em várias dessas existências, voltou como leproso, para limpar seu corpo espiritual das manchas que adquirira em séculos de horrores.

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