DIVALDO CONTA:
"Numa certa data, desencarnou um
amigo muito querido, que nos deixou contristado. A família ficou desolada.
Algum tempo depois, Joanna de Ângelis me apareceu e orientou-me:
-
Hoje deite-se mais cedo, pois preciso conduzi-lo ao
recinto onde se acolhe o nosso irmão recém-desencarnado, que irá despertar na
Estância nova.
Normalmente, deito-me muito tarde mas, naquela ocasião,
recolhi-me ao leito à hora recomendada. Fiz o relax, a Benfeitora me desdobrou
e, de repente, me senti no Mundo Espiritual.
Joanna de Ângelis, muito atenciosa, falou-me:
-
Vou recomendar-lhe algo importantíssimo; por favor, faça
silêncio!
Pensei: mas não é possível que ela acredite que eu me
apresentarei extrovertido, barulhento!
Contestei-lhe, algo surpreso:
-
Minha irmã, desculpe-me, porém acho essa recomendação
desnecessária, em razão da minha conduta habitual!
Ela sorriu, discreta, e insistiu:
-
Por favor, faça silêncio quando chegar lá, está bem?
-
Sim senhora! - anuí, constrangido.
Subitamente - não sei explicar como ocorreu o fenômeno -
senti-me em uma região, na qual havia o que chamaríamos de um
"edifício", mas não de tijolo, de vidro, de metais . . . Como
explicarei a um cego sobre a diferença de cores? Tenho que usar imagens
conhecidas que, para ele, serão poucas.
Era, portanto, um "edifício" hexagonal. Dava-me
a impressão de ser de cristal. Tudo era transparente. Entramos. O corredor me
permitia ver várias enfermarias e, lá dentro, alguns recém-chegados da Terra,
internados, recebendo assistência especializada.
Adentramo-nos e seguimos andando, quando, adiante, vi meu
amigo no colo de uma dama que supus ser sua mãezinha, uma senhora de idade, que
eu não conhecera, mas que, de imediato assim identifiquei. Ela o amparava no
colo, acarinhava-lhe a cabeça. Ele dormia. Quando o vi, gritei mentalmente:
Jorge! Ele estremeceu. Ato contínuo, Joanna me advertiu:
-
Pedi-lhe silêncio . . . mental!
É muito difícil ver algo desse porte sem emocionar-se; ser
uma testemunha imparcial. Quem é capaz de ver um crime, imparcialmente? Ver
alguém maltratando uma criança, ou um animal, até matá-lo, e - como observador
- não se envolver? É muito difícil a disciplina mental . . . O oposto também é
verdade: identificar a beleza, a misericórdia, o amor, sem se manifestar!
Naquele momento controlei-me, mas ele se agitou. A mãe,
acariciando-o, disse-lhe:
-
Acorde, Jorge! Está na hora, meu filho!
Ele, sonolento, foi abrindo os olhos. Olhou para ela e
gritou:
-
Mamãe!
-
Meu filho!
Abraçaram-se.
-
Onde estou, mamãe?
-
Está em paz! Está em casa, meu filho.
-
E Ângela? (a esposa).
-
Ângela ficou na Terra.
-
Mas onde estou?
-
Está internado para tratamento do coração. As dores que
ainda lhe afligem vão passar.
-
Mas, mamãe, você já . . . morreu!
-
Já, sim, meu filho, mas você também! Só que não existe
a morte. Estamos vivos, meu filho.
Ele teve uma expressão de grande júbilo, e, chorando,
olhou em derredor, identificando-me.
Muito emocionado, perguntou-me:
-
Divaldo, você também já morreu?
-
Ainda não! - respondi-lhe -, estou visitando-o.
Após alguns minutos de vivas emoções, Joanna de Ângelis
convidou-me ao retorno ao corpo.
Ele voltou a adormecer.
Terminada a tarefa, a bondosa Amiga esclareceu:
-
Agora, vamos. Daqui a meia hora, mais ou menos, ele
voltará a despertar, como qualquer pessoa depois de uma anestesia.
Retornei ao corpo. Às 8h da manhã, telefonei para a
família e informei que o amigo Jorge já houvera despertado e que se encontrava
muito bem.
Daí a uma semana voltei a visitá-lo mantendo um contato
mais demorado. Ainda se encontrava com dores, porque o perispírito, que é o
campo de energia semimaterial, que decodifica a emoção e a sensação do Espírito
para o corpo e vice-versa, ainda estava impregnado pelos fluidos mantidos
durante a jornada terrestre.
Chico Xavier contou-me, oportunamente que seu irmão José -
que morreu de um derrame cerebral - dois anos depois do óbito, ainda guardava
resquícios do problema orgânico que o levara à desencarnação que eram as dores
de cabeça.
E, no entanto, fora um homem bom, severo cumpridor dos
seus deveres, dedicado trabalhador espírita.
Desencarnar não é fácil. Morrer, sim: ocorre a parada
cardíaca e sobrevém a morte, mas a criatura não se liberta dos sintomas do
corpo com facilidade, porque ficam as impressões que decorrem do fenômeno da
morte física. (Maiores detalhes ler o livro
"Temas da vida e da morte", de Manoel P. de Miranda, pág. 77 e 78).
José, segundo o Chico, somente se recuperou totalmente no
dia 26 de julho, quando recebeu a visita de uma Entidade veneranda: São Luís
Gonzaga.
Naquele dia, que é o de seu aniversário, periodicamente
esse nobre Espírito vem em visita à Terra.
José foi levado à presença de São Luís, que o tocou e lhe
tirou as últimas impressões materiais.
Disse-me, então, o querido Chico:
-
Divaldo, trabalhe muito na Terra, porque com seu
problema cardíaco, se não trabalhar muito - mesmo com dores -, quando você
seguir no rumo da Imortalidade, poderá continuar com as dores . . .
Conversei muitas vezes com o amigo Jorge, ali havendo
retornado em diversões ocasiões. Em uma delas, fui acompanhado pelo Espírito
Manuel Philomeno de Miranda, que me elucidou:
-
Tudo aquilo que impregnamos no corpo, demoramos para
desintoxicar no Mundo Espiritual.
Quem fuma, por exemplo, mesmo esse denominado
"cigarrinho inocente" de alcatrão e outros conservantes químicos do
tabaco, poderá sofrer de câncer na boca, na língua, no pulmão ou enfisema. O
tempo que se demorou fumando, ao desencarnar fumante, permanecerá no Além
sentindo a sua falta por um tempo correspondente.
Quem fumou, por exemplo, durante vinte anos, ficará no
Além sofrendo a falta da dependência do tabaco por um período correspondente.
Quem se entregou à bebida alcoólica ou se permitiu drogas aditivas e
perturbadoras, permanecerá, no Além, uma temporada correspondente a esse período
a que se entregou na viciação com a mesma problemática de sofrimento. O físico
é o mundo de pregnância, quando ficamos impregnados. No Mundo Espiritual, por
consequência, ninguém se desimpregna de um momento para outro.
José, para libertar-se da dor, permaneceu por anos, razão
pela qual, nas nossas reuniões mediúnicas, os Espíritos se apresentam conforme
desencarnaram para, ao se incorporarem nos médiuns, deixarem-lhes os resíduos,
e desvinculando-se sem as sensações, que são liberadas, quando são doutrinados.
Os médiuns funcionam, desse modo, como se fossem esponjas, eliminando essas
sensações e o mal-estar pela sudorese, pelo bocejo, pelos passes ou pelos
Mentores, que no final da reunião desencharcam seus sensitivos (médiuns).
O Mundo Espiritual é uma realidade causal, é a nossa fonte
original. Somos a continuação das ações de onde viemos, e voltaremos com os
recursos resultantes de como agirmos.
Do livro: Divaldo Franco e o Jovem
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