sexta-feira, 19 de setembro de 2014

O GRUPO PERFEITO




O Espírito Júlio Marques era mentor de um pequeno agrupamento. Orientava com critério e bondade. Era condutor paciente do pequeno rebanho de companheiros espíritas. Duas vezes por semana, incorporado na médium Maria Paula, orientava os amigos na atividade evangélica. Ternura aliada à experiência, firmeza conjugada à abnegação. Conflitos e dificuldades morais escoavam nele de modo particular, arrancando-lhe palavras iluminadas de benevolência e candura, a deslizarem nas alheias feridas por bálsamo de esperança.
Numa das noites de trabalho na casa, uma jovem senhora que estava na assistência,  esperou Marques encerrar o comentário edificante para interrogar:
-          Irmão Júlio, posso pedir-lhe uma orientação?
O interpelado respondeu, humilde:
-          Sou deficiente demais para isso; entretanto, estou nesta casa para servir . . .
Então ela continuou:
-          desejo formar um grupo espírita, de acordo com o meu ideal . . . Acha o senhor que posso pensar nisso?
-          Sem dúvida alguma. Todos somos chamados à obra do Senhor . . .
-          Mas eu quero, irmão Júlio, organizar um círculo de criaturas elevadas e sinceras, que apenas cogitem da virtude praticada! . . .
-          Grande propósito!
-          Uma instituição em que as pessoas se confraternizem, com rigoroso senso de pureza íntima . . . Nada de egoísmo, irritação, incompreensão, contenda . . .
-          Sim, minha filha . . .
-          Um grêmio, em que todos os associados vibrem pelo padrão do Evangelho . . . pessoas simples e imaculadas, que não encontrem qualquer obstáculo para a harmonia de convivência . . . Verdadeiros apóstolos do bem . . . O irmão Júlio está ouvindo?
-          Sim, filha, continue . . .
-          Anseio por uma comunidade consagrada às realizações espíritas sem a mais leve perturbação. Os médiuns serão espelhos mentais cristalinos, retratando o Verbo do Alto, como os lagos transparentes que refletem o Sol. Os diretores governarão as tarefas, na posição de almas primorosas, capazes de todos os sacrifícios pela causa da Verdade, e os cooperadores, corretos e conscientes, integrarão equipe afinada, de maneira incondicional, com os princípios da nossa Doutrina de luz . . .
-          Plano sublime!
-          O ambiente lembrará uma fonte viva de paz e sabedoria em que os justos desencarnados se sentirão à vontade para ministrar aos homens os ensinamentos das Esferas Superiores, com a segurança de quem usa instrumentação irrepreensível . . .
-          Sim, sim . . .
-          Aspiro à criação de um conjunto que desconheça imperfeições e fraquezas, problemas e atritos.
-          Deus nos ouça.
-          Entre as paredes da organização que me proponho levantar, ninguém terá lugar para malquerença ou desânimo  tudo será tranqüilidade e alegria. Nenhuma brecha para discórdias.
-          Que o Senhor nos ampare.
-          Um templo a edificar-se na base de cooperadores que jamais descerão da nobreza própria, a ofertarem um espetáculo permanente de Céu na Terra, para a exaltação da caridade.
-          Sim, sim . . .
Observando que o amigo espiritual não se desviava dos conceitos curtos, sem enunciar opiniões abertas, Dona Clara acentuou:
-          Posso contar com o senhor?
-          Ah! Filha, não me vejo habilitado . . .
-          Ora essa! Por quê?
-          Sou um Espírito demasiadamente imperfeito . . . Ainda estou muito ligado à Terra.
-          Mas, recebemos tantos ensinamentos de sua boca!
-          Esses ensinamentos não me pertencem, chegam dos mentores que se compadecem de minha insuficiência . . . Brotam em minha frase como a flor que desponta de um vaso rachado. Não confunda a semente, que é divina, com a Terra que, às vezes, não passa de lama . . .
-          Então, o irmão Júlio ainda tem lutas por vencer?
-          Não queira saber, minha filha . . . Tenho a esposa, que prossegue viúva em dolorosa velhice, possuo um filho no manicômio, um genro obsidiado, dois netos em casa de correção . . . Minha nora, ontem, fez duas tentativas de suicídio, tamanhas as privações e provocações em que se encontra. Preciso atender aos que o Senhor me concedeu . . . Minhas dívidas do passado confundem-se com as deles. Por isso, há momentos em que me sinto fatigado, triste . . . Vejo-me diariamente necessitado de orar e trabalhar para restabelecer o próprio ânimo . . . Como verifica, embora desencarnado, sofro abatimentos e desencantos que nem sempre fazem de mim o companheiro desejável.
-          Oh! É assim?
-          Como não, filha! Todos estamos evoluindo, aprendendo . . .
Dona Clara refletiu um momento e voltou à carga:
-          Mas, em algum lugar, haverá decerto uma associação impecável . . . Diga, irmão Júlio, o senhor sabe de alguma equipe sem defeito, como eu quero? E se sabe, onde é que ela está?
O Espírito amigo, senhoreando integralmente a médium, pensou também por um instante e respondeu com a mais pura ingenuidade que já vi até agora:
-          Sim, minha filha, um grupo assim tão perfeito deve existir . . . Com toda a certeza deve ser o grupo de nosso Senhor Jesus Cristo.

 

Espírito: Irmão X, psicografia de Chico Xavier
Do livro: Contos Desta e Doutra Vida

 

" . . . o importante é que não vos deixeis desalentar. Recordai que, para o trabalho inicial do Evangelho, Jesus requisitou o concurso de doze homens e não de doze anjos.
Talvez o problema maior para os companheiros de ideal que se permitem desanimar, ante as fragilidades morais que evidenciam, seja o fato de suporem ser o que ainda não o são . . ."


Espírito: Bezerra de Menezes, psicografia de Carlos A Baccelli
Do livro: A Coragem da Fé

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