A BÍBLIA
Para os judeus, principais remanescentes dos
israelitas, a Bíblia se resume ao conjunto de livros conhecido como Velho
Testamento, onde está toda a história de seu povo, na Antigüidade. Revelações
espirituais recebidas, lutas de conquista e defesa da Terra Prometida,
obras-primas literárias de seus escritores, costumes legislação adotados, tudo
ali se retrata e registra para a posteridade.
Ao Velho Testamento, os cristãos anexaram outro conjunto
de livros, o Novo Testamento, que abrange: os relatos da Vida de Jesus
(Evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João); os feitos de seus seguidores mais
imediatos (Atos dos Apóstolos); as cartas que escreveram Paulo, Tiago, João,
Pedro e Judas (Epístolas); e o profético e enigmático livro de João
(Apocalipse).
Os israelitas rejeitam essa junção do Novo ao Velho
Testamento, pois não reconhecem Jesus de Nazaré como o Cristo, o Messias que
lhes fora prometido e que talvez ainda esperem.
QUE É A BÍBLIA?
A Bíblia é um conjunto de livros que relata a
história dos hebreus, povo asiático da Antigüidade, que se instalou na
Palestina.
Seus livros foram escritos por vários autores, em
épocas diversas.
Teriam sido 36 os seus autores, contados desde Moisés
(1437 a C), o 1º deles a escrever, até João, pescador e apóstolo (em 98 d C).
O conjunto todo, portanto, foi escrito ao longo de
1571 anos (quase 16 séculos).
Quem primeiro usou a palavra bíblia?
Do grego “byblos” = livro, para designar essa
coleção de textos como “o livro por excelência” foi João Crisóstomo, patriarca
de Alexandria (entre 398 a 404 d. C.
COMO SE DIVIDE?
Como a conhecemos hoje, a Bíblia está dividida em
duas partes: o Antigo (ou Velho) Testamento e o Novo Testamento.
Por
que Testamento?
O termo original, em hebraico, era “herith”, que
quer dizer: ajuste contratual entre pessoas ou tratado político entre tribos.
Traduziram para o grego pela palavra “diatheke”, que
pode ser usada tanto no sentido de pacto
ou aliança como no de testamento.
Ao
passar para o latim ( e daí o português), foi traduzida como testamento. O
melhor sentido, porém, teria sido outro: pacto, aliança, porque fora exatamente
um pacto que (segundo os israelitas) Deus (a quem chamavam Jeová) teriam feito
com eles, nos seguintes termos:
1) Deviam ter Jeová como único
e verdadeiro Deus e só a Ele servir, fielmente, pois para isso os escolhera
(“povo eleito”).
2) Em troca, Ele os protegeria
sempre, os faria muito numerosos, livres, poderosos e lhes daria uma terra
fértil para habitarem (até então eram nômades).
VELHO
TESTAMENTO
É constituído pelos livros que foram escritos antes
da vinda de Jesus. Narra toda a história do pacto entre Jeová e os israelitas e
de tudo quanto se seguiu em cumprimento dele. Seus livros abrangem a história,
religião, instituições e costumes hebreus; alguns deles são as principais obras
literárias e filosóficas desse povo. Também contêm o registro das manifestações
e revelações espirituais que, ao longo de sua história, os hebreus receberam da
Espiritualidade Superior.
Em alguns deles, já se anuncia o advento do Cristo,
um redentor para o povo hebreu.
Quando dizia “a lei e os profetas”, Jesus estava
aludindo aos livros do Velho Testamento, que continham os mandamentos e
ordenações a que os israelitas obedeciam.
NOVO
TESTAMENTO
Com a vinda de Jesus e através dele, um novo pacto
ou aliança foi firmado por Deus (Lc. 22:20; Mc 14:24; Mt. 26:28; Ex. 24:6/8),
agora não apenas com o povo hebreu, mas extensivo a toda a humanidade.
Os livros do Novo Testamento:
1) Contam a história do advento
de Jesus, o Cristo, e da repercussão que causou na Palestina e no mundo.
2) Fazem a biografia terrena de
Jesus, relatando seus principais feitos e ensinos, bem como os de seus
primeiros e mais direitos seguidores.
Observação: Para
os israelitas, a Bíblia consiste unicamente no Velho Testamento, pois não
reconhecem Jesus como o Messias Prometido.
Para os Cristãos, a Bíblia abrange o Velho e o Novo
Testamento.
EM QUE IDIOMA FOI ESCRITA?
Velho
Testamento:
Seus livros foram, na maioria, escritos em hebraico
(idioma semítico que, após o cativeiro na Babilônia, os hebreus usavam na
liturgia, no culto religioso); apenas algumas passagens foram escritas em aramaico (idioma semítico falado em
Arã, usado pelos israelitas em suas relações internas e com outros povos).
Novo
Testamento:
Jesus falava aramaico, mas nada escreveu; seus discípulos é que escreveram
sobre ele e o fizeram em grego, com
exceção de Mateus, que escreveu em aramaico.
VERSÕES E
TRADUÇÕES QUE DELA FIZERAM
A Versão dos
Setenta: No
século II a C., sábios judeus que viviam na Alexandria (Egito) traduziram para
o grego os livros do Velho
Testamento, acrescentando a eles mais outros 7 livros; os judeus de Jerusalém
não aceitaram esses acréscimos.
A Vulgata (em
latim, divulgada): O idioma grego foi perdendo sua importância como idioma cultural,
enquanto o latim dos dominadores romanos começava a se impor. No século IV
d.C., já havia uma tradução da Bíblia para o latim.
Papa Dâmaso (pontífice entre os anos 366-384 d.C.)
ordena a São Jerônimo revisão e tradução das versões existentes para o latim.
Atendendo à determinação papal, São Jerônimo
examinou as versões existentes, uniu o VT (com base na versão dos 70) ao NT e
traduziu tudo do grego para o latim.
É
a denominada Vulgata, única versão que a Igreja Católica adota, embora permita
o estudo de outras.
Impressão gráfica em alemão: Até o século XVI, só
tinham acesso à Bíblia e podiam lê-la, o clero católico e as pessoas por ele
autorizadas.
Então, traduziu-a para o idioma do seu povo (o
alemão) e, graças à imprensa recém-inventada por Guttemberg, publicou-a e a
popularizou.
Traduções para o
português
As mais conhecidas são:
1) Protestante: a de Ferreira
de Almeida, publicada em 1748, muitos anos após a morte dele.
2) Católica: a do Padre Antonio
Pereira de Figueiredo.
POR QUE
ESTUDÁ-LA?
O estudo da Bíblia é importante e interessa a todos
os cristãos (inclusive, portanto, aos espíritas), porque:
1) É na Bíblia que encontramos
os relatos sobre a vida de Jesus (que era judeu, da casa de Judá, uma das
tribos dos hebreus) e a história do povo em que ele nasceu e viveu.
2) Conhecendo o povo, a época,
os lugares e as circunstâncias em que Jesus viveu, poderemos entender melhor
seus atos e sua mensagem.
No estudo bíblico, porém, não podemos ignorar que no
Velho Testamento há:
Uma parte
humana,
constituída:
1) Pelas idéias que os hebreus
faziam quanto à origem do Universo, a criação da Terra e dos seres que a
habitam.
2) Pela legislação civil,
disciplinar, estatuída por Moisés e outros dirigentes do povo hebreu.
Dessa parte humana da Bíblia, muita coisa ficou
ultrapassada pelo progresso do conhecimento humano e mudança dos costumes
sociais.
Exemplos:
1) O direito e dever da viúva
sem filhos de casar com o cunhado para suscitar descendência para o marido morto
(Deut. 25:5).
2) O dever de os pais
apresentarem o filho rebelde e contumaz para ser apedrejado e morto (Deut.
21:18/21).
3) A permissão da escravidão, a
venda de filhos como escravos, ou a de si mesmo por pobreza (Lev. 26:44/47,
21:7).
4) A prisão por dívida e sem
poder sair antes de pagar o que deve (Jesus alude a isso em Mt. 18:30).
5) A proibição de o filho
bastardo entrar na congregação do Senhor até a décima geração (Deut. 21:18).
Uma parte
divina,
constituída: Pelas revelações feitas por bons Espíritos em nome de Deus e
através de Moisés e outros profetas (médiuns), transmitindo ensinamentos
sublimes sobre as leis divinas.
Como tudo que é divino, essa parte dos ensinamentos
bíblicos não mudou nem perdeu seu valor, permanecendo atual sempre.
Exemplos:
1) O Decálogo (os dez
mandamentos) (Ex. 21:1/17, Deut. 5:6/21).
2) A hospitalidade para com os
viajores (Gen. 18:1/18, 19:1/3).
3) Não oprimir a viúva, nem o
órfão, nem o estrangeiro, nem o pobre (Zc. 7:10).
4) Preferir Deus a misericórdia
e não os sacrifícios ou holocaustos (Os. 6:6).
5) O justo não paga pelo
pecador e há recuperação do pecador que se arrepende (Ez. 18).
Não basta, pois, ler a Bíblia e decorar suas
passagens. É preciso entender, discernir
e interpretar o que ela contém.
E muito nos ajudará, no entendimento das passagens
bíblicas, o conhecimento de usos e costumes do povo hebreu, caráter dos
israelitas, o modo de se expressarem em imagens fortes e simbólicas, etc.
Quantos livros são?
Para os judeus, como não reconhecem Jesus
por Messias, somente são válidos os 39 livros do Velho Testamento.
Seriam 46, se os judeus de Jerusalém houvessem
aceitado os 7 livros acrescentados na Versão dos Setenta, a saber: Tobias,
Judite, Sabedoria, Eclesiástico, Baruc, Macabeus (2 livros), além de fragmentos
nos livros de Daniel e de Ester, como, também, 1 carta do profeta Jeremias
(Lamentações).
Para os
cristãos,
aos livros do V.T. somam-se os 27 do N.T., que falam sobre Jesus.
A Igreja Católica, ao se organizar, adotou o V.T.
baseando-se na Versão dos Setenta.
Mas os protestantes, ao fazerem a Reforma (com
Lutero, no Séc. XVI), excluíram da Bíblia esses 7 livros.
Portanto a Bíblia
tem: VT NT
Total de livros
Para os judeus 39 - 39
Para os católicos 46 27 73
Para os protestantes 39 27 66
A Igreja Católica denomina:
1) Canônicos aos 73 livros, porque os considera como inspirados por Deus.
Foram oficializados pelas prescrições do Concílio de
Trento (1546) e do Concílio Vaticano I (1870), sendo:
Protocanônicos: os livros que sempre foram
aceitos como divinamente inspirados.
Deuterocanônicos: os 7 livros e fragmentos
aceitos posteriormente.
2) Apócrifos aos livros que, embora contemporâneos dos escritos bíblicos, não fazem
parte da Bíblia, porque não são considerados como obras inspiradas por Deus,
embora existam neles muitos dados históricos e doutrinários de valor; mas neles
há, também, idéias que conflitavam com o entendimento da Igreja Católica e até
colocações notoriamente exageradas e sem fundamento.
Esses documentos apócrifos também são de interesse
para o estudioso do Cristianismo e do Espiritismo.
No Velho Testamento
1)
Pentateuco: É o nome grego dado ao
conjunto dos 5 livros que abrange a
legislação mosaica.
Torah é o seu nome hebraico. Os israelitas também
diziam A LEI, por consubstanciar as
regras para governar o procedimento dos
homens.
a)
Gênese (=origem): história
simbólica das origens da humanidade (a criação, de Adão a Noé) e do povo hebreu
(dos patriarcas até sua entrada no Egito).
b)
Êxodo (= saída): narra as agruras
dos hebreus sob domínio, no Egito, sua saída de lá e a aliança com o Senhor,
através do Decálogo.
c)
Levítico (=referente aos levitas):
instrui os levitas sobre o culto (todos os servidores do Templo eram da tribo
de Levi e os sacerdotes, em especial, da família de Aarão); mas também é um
núcleo da legislação mosaica, relacionando leis civis e religiosas.
d)
Números: seu nome vem das listas de
números e nomes sobre as famílias do povo hebreu; repete parte do êxodo (40
anos no deserto) e apresenta outras leis e prescrições.
e)
Deuteronômio (=segunda lei): repete e
complementa os capítulos 20 a 23 do Êxodo; relata os últimos fatos da vida de
Moisés e sua morte (isso exclui seja esse patriarca o autor de todo o Pentateuco).
2)
Livros Históricos
São
12 livros e mais 4 deuterocanônicos (os 7 livros e fragmentos aceitos
posteriormente).
Registram a conquista de Canaã (Palestina), os
feitos de seus chefes guerreiros (Juízes), a instalação do reino de Israel até
sua divisão e decadência, terminando com o deportamento para a Babilônia,
seguido da restauração do reino por Ciro, o imperador persa.
Narram, também, o jugo sofrido ante a Síria e a
libertação por Judas, Macabeu.
São eles: Josué, Juízes, Ruté, Samuel I e II, Crônicas
I e II, Esdras, Neemias (também classificado como Esdras II), Tobias e Judite
(deuterocanônicos), Ester (fragmentos deuterocanônicos), Macabeus I e II
(deuterocanônicos).
3) Livros Sapienciais (de sabedoria).
São 5 livros e mais 2 deuterocanônicos.
Abrangem obras filosóficas e religiosas: Jó, Salmos,
Provérbios, Eclesiastes, Cântico dos Cânticos, Sabedoria (deuterocanônico),
Eclesiásticos (deuterocanônico).
4) Profetas
18
são os livros (2 deles deuterocanônicos), mas 17 os profetas (profeta: o que
fala por, intermediário, porta-voz).
São mensagens de inspirações mediúnica intercaladas
de passagens históricas.
Os profetas hebreus não são classificados
cronologicamente, mas pela extensão de seus escritos, em:
Maiores: ISAÍAS, JEREMIAS, EZEQUIEL,
e DANIEL (fragmentos deuterocanônicos).
Acrescente-se o livro Lamentações (de Jeremias,
deuterocanônico).
Menores: BARUC (deuterocanônico),
OSÉIAS, JOEL, AMÓS, ABDIAS, JONAS, MIQUÉIAS, NAUM, HABACUC, SOFONIAS, AGEU,
ZACARIAS e MALAQUIAS.
No Novo Testamento (27
livros)
1)
Evangelhos (4 livros) : Evangelho, em
grego, significa “boa nova” e esses livros assim se denominam por tratarem das
notícias alvissareiras da chegada do Messias Prometido e da nova era que se
abre para a humanidade.
Os
Evangelhos são resumos da vida, feitos e ensinos de Jesus.
Não foram por ele escritos (ensinava oralmente e
nada deixou escrito).
As primeiras narrações sobre Jesus somente
apareceram dezenas de anos após a sua morte (ano 50 ou 70 d. C.).
Classificam-se em:
a)
Sinóticos
Três
dos Evangelhos que podem ser distribuídos em 3 colunas paralelas e abrangidos
de um só olhar (sinopse):
Foram escritos por:
Mateus: antes de ser chamado por
Jesus era coletor de impostos, seu nome era Levy; por ser funcionário, mostra
Jesus como “Rei”;
Marcos (João): primo de Barnabé; baseou-se em
reminiscências de Pedro; mostra Jesus como “servidor incansável”;
Lucas: era de origem grega e o mais
intelectualizado; investigou por via indireta para escrever; mostra Jesus como
“homem” (genealogia, etc.)
b)
Simbólico
Assim
é chamado o Evangelho escrito por João (irmão de Tiago, filho de Zebedeu). Foi
o último a escrever e o fez na Ásia Menor, entre 90 e 100 d.C.
Mais espiritualizado, mostra Jesus como “entidade
celestial”.
Evangelhos
Apóclifos
Houve
muitos outros escritos sobre Jesus e seus ensinos.
Talvez
alguns contivessem dados importantes, mas foram considerados apócrifos: sem
autenticidade, não inspirados e, pois, sem valor normativo de fé. Lucas alude a
outros escritos no 1º versículo do seu Evangelho.
Orígenes,
no século III, dizia existirem muitas dessas narrativas.
Atualmente,
sabe-se de 20 deles, sendo os principais: Evangelho segundo os Hebreus,
Evangelho dos Doze Apóstolos, Evangelho segundo os Egípcios, Evangelho de
Pedro, Proto-Evangelho de Tiago, Atos de João, Atos de Paulo, Atos de Pedro,
Atos de Tomé, 3ª Epístola aos Coríntios, Epístola aos Laodicenses, Apocalipse
de Pedro, Apocalipse de Paulo, etc.
Exemplos
de histórias apócrifas:
-
a das espigas eretas e as vergadas para o solo (quem tem real valor não
procura se exibir).
-
A dos dentes de um cã morto (saber enxergar o bem em tudo e em todos).
2)
Atos dos Apóstolos (1 único livro)
É a
continuação do Evangelho, após o episódio do Calvário.
Conta
os efeitos dos seguidores de Jesus, após a ressurreição do Mestre, nos
primeiros tempos do Cristianismo, destacando os apóstolos Pedro e Paulo.
Sua
autoria é atribuída a Lucas.
3)
Epístolas
São
as cartas escritas pelos apóstolos e discípulos às igrejas, ou seja, às
assembléias, agrupamentos dos primeiros cristãos.
Conservaram-se
apenas 21 delas, das quais:
a)
14 paulinas (escritas por Paulo)
São
as únicas com título, conforme os destinatários: Romanos, Coríntios I e II,
Efésios, Filipenses, Colossenses (estas 3 últimas chamadas de “epístolas do
cativeiro” sofrido por Paulo, em Éfeso ou Roma, no ano 60-62 d.C.),
Tessalonicenses I e II, Timóteo I e II, Tito (estas 3 chamadas de “pastorais”,
porque nelas Paulo visava a organizar as igrejas locais – Éfeso e Creta – e
“ordenar a disciplina eclesiástica é função pastoral”), e, ainda, Filêmon –
Hebreus.
b)
7 católicas (= universais)
Dirigidas
a todos os fiéis e escritas por Tiago (Menor) 1; Pedro 2; João 3; e Judas
(Tadeu) 1.
4)
Apocalipse (=revelação, em grego)
É
um livro de origem mediúnica, no qual o evangelista João relata suas visões,
profecias e mensagens recebidas.
É como que uma carta destinada às Igrejas da Àsia Menor e
foi escrito por João na Ilha de Patmos, onde estava exilado por ordem do
Imperador Domiciano.
Fala do futuro (que iria acontecer naquele tempo,
ou, então, que ainda vai acontecer à humanidade). Afirma que, apesar da
oposição do mal, a vitória final será do bem.
Por ser muito simbólico, é de difícil interpretação.
Observação:
Mais
manuscritos bíblicos descobertos.
Duas
descobertas ocasionais de manuscritos relacionados, de alguma forma aos tempos
e povo bíblico ocorreram no final da primeira metade deste nosso século, a
saber:
-
em 1947, numa caverna nas imediações do Mar Morto, na Judéia,
manuscritos que pertenceram a uma comunidade essênica estabelecida na região,
no local denominado Qumram, um século antes do nascimento de Jesus. Por meio
deles, foi possível reconstituir, com relativa segurança, crenças, rituais,
hábitos e costumes daquela comunidade essênica;
-
em 1945, nas imediações de Nag-Hammadi, no Alto Egito, manuscritos em
linguagem copta, que compunham uma biblioteca gnóstica e datam, materialmente,
do século quarto, mas reportam-se a manuscritos originais que recuam, no
mínimo, a meados do século e, em alguns aspectos tradicionais, à Segunda metade
do primeiro século, o que nos leva de volta à época em que ainda viviam os
apóstolos diretos do Cristo, a fase formadora das doutrinas cristãs, ao tempo
em que estas se cristalizaram em sacramentos, ritos, dogmas e estruturas
administrativas.
Entre esses manuscritos, está um que deve ser cópia
do famoso e perdido Evangelho de Tomé, considerado apócrifo e do qual só se
conheciam alguns fragmentos em grego, descobertos em 1890.
Para exata avaliação da importância desses textos,
embora não se possa atestar a pureza virginal, é certo que pelo menos durante
quase 16 séculos não sofreram manipulações mutiladoras, como aconteceu aos
documentos chamados canônicos.
Como procurar
passagens na Bíblia
Como os demais livros dos tempos antigos, os livros
bíblicos eram escritos em papiro ou em pergaminho; tinham as folhas coladas
abaixo uma das outras e eram guardados como rolos.
A Bíblia
passou a ser uma coleção de livros manuscritos em papel, quando esse material, que
havia sido inventado pelos chineses, foi introduzido na Europa.
A invenção da imprensa, por Guttenberg (cerca de
1436) permitiu se passasse a fazer a impressão de numerosos exemplares de um
livro. Isto veio a contribuir para a divulgação da Bíblia, que Martinho Lutero
traduziu para o alemão e queria colocar ao alcance de todos os cristãos.
Inicialmente, colocados uns em seguida aos outros,
os manuscritos bíblicos não traziam quaisquer divisões ou indicações que
facilitassem a leitura ou a pesquisa. E os fatos, narrados em seqüência, também
não recebiam qualquer separação nem indicação de assunto.
Mais tarde, começaram a ser feitas divisões e
indicações nos livros bíblicos, para facilitar ao estudioso ou ao simples
leitor a busca e a identificação de um assunto ou passagem. Pelo século 13 (ou 16), a Bíblia já estava
inteiramente dividida em capítulos e versículos.
Atualmente, uma Bíblia
apresenta as seguintes divisões e indicações:
1)
Índice
É uma relação com o nome dos livros que a Bíblia
contém; a abreviatura dos nomes desses livros; em que página cada livro se
inicia.
Às vezes, diz até quantos capítulos cada livro tem.
2)
Títulos
O título de um livro é anunciado em letras bem
grandes. Ex.: O
EVANGELHO SEGUNDO MARCOS. Como a impressão é seqüente, um livro pode começar no meio da página. O
título, porém, destaca bem onde ele começa.
3)
Subtítulo
Vem no começo de uma passagem, em letras menores que
o título, e antecipa o que ali se vai ler.
Exemplo:
João dá
testemunho do Cristo.
(Mt. 3.11/12; Lc. 3.15/17; Jo 1.19/28)
As abreviaturas abaixo do subtítulo informam onde
podemos encontrar o mesmo assunto nos outros evangelhos, para podermos comparar
as narrativas.
4)
Capítulos e versículos
Eles dividem a narrativa, conforme os fatos ou
assuntos vão surgindo.
Os capítulos
indicam os trechos maiores, assuntos mais completos; reunidos, formam o
livro.
Os versículos
são frases reunidas sob um número; separam, dentro dos capítulos, as
citações, comentários, fases da narrativa; reunidos, formam o capítulo.
5)
Número da página
Tanto pode vir encimando a página como no seu final.
6)
Conteúdo abrangido pela
página
Costuma ser indicado no início da página.
Ex.: 1,9
II Timóteo 2,20.
Significa que a página em exame contém do capítulo
1, versículo 9, da II Epístola de Paulo a Timóteo, até o capítulo 2, versículo
20.
Se estivermos procurando outro capítulo (o 3, por
exemplo), sabemos que devemos ir mais adiante, talvez na página seguinte.
7)
Explicações de rodapé
Se no fim de um versículo ou ao lado de uma palavra
houver asterisco (*) ou uma letra ou número bem pequenos, quer dizer que, no rodapé da página, virá uma
explicação ou observação especial sobre o que se está lendo.
Ex.: Na II carta de Paulo a Timóteo, cap. 1 vs. 5,
lemos: "e de tua mãeb Eunice, e que estou certo, habita também
em ti".
Olhando no fim da página, acharemos de novo o
pequeno "b" e a observação: b cap. 1-5. Eunice: é nomeada nos Atos
16, 1.
Às vezes, as anotações e observações, comparações de
datas, etc. vêm na lateral da página e não no rodapé.
Como fazer a
citação de uma passagem
Para fazer menção ao que é relatado na Bíblia, são
usadas algumas expressões em especial:
Passo ou
passagem: é
o episódio ou trecho citado de um autor; uma das ocorrências ou acontecimentos.
Ex.: Este passo de Mateus está diferente do de
Lucas.
Ex.: Nesta passagem, Jesus se encontra com
Nicodemos.
Parábola: é uma história simbólica,
comparativa, e conclusão moral.
Ex.: O relato sobre o rico e Lázaro é uma parábola e
não uma passagem.
Ensino: é uma instrução.
Ex.: "Daí a César o que é de César",
ensina Jesus.
Para indicar onde uma passagem se encontra, diz-se
primeiro o livro, depois o capítulo e, se necessário, o versículo.
Ex.: Mateus, capítulo cinco, versículo 1 a 15.
5º capítulo de Mateus, versículos 1 a 15.
Mateus 5, vs. 1 a 15. Ou ainda Mt. 1/15.
Podemos, também, começar pelo versículo, citando em
seguida o capítulo e, depois, o livro.
Ex.: Versículo 1 a 15, do capítulo cinco, do
Evangelho de Mateus.
Exercício de
localização de passagens na Bíblia
Procure achar na Bíblia as seguintes passagens:
O Decálogo (Os 10 mandamentos):
-
em Êxodo, cap. 20, vs. 1/17;
-
em Levítico, cap.19, vs. 1/4 e 11/18.
Proibição do intercâmbio mediúnico:
-
em Deuteronômio, cap. 18, vs. 9/14;
-
em Levítico, cap. 19, vs. 31.
Sobre reencarnação:
-
Jesus conversa com Nicodemos, em João 3, vs. 1/13;
-
João Batista é Elias de volta, em Mateus 11, vs. 7/15, e 17, vs. 1/3 e
9/13.
Jesus promete um Consolador:
-
em João, capítulos: 14, vs. 15/17 e 26; 15, vs. 26, e 16, vs. 12/14.
Livros
auxiliares para o estudo bíblico
Harmonia dos
Evangelhos
Apresenta o conteúdo dos 4 evangelhos canônicos em
colunas paralelas. Assim, as ocorrências da vida de Jesus podem ser comparadas,
segundo a narrativa dos evangelistas que as tenham registrado e na possível
ordem cronológica.
Chave bíblica
Indica em que livro, capítulo e versículo uma
determinada passagem se encontra na Bíblia.
Funciona assim:
-
escolhemos, na passagem, uma das palavras que mais caracterize o
assunto nela tratado;
-
procuramos essa palavra na chave bíblica, entre as que lá se encontram,
em ordem alfabética;
-
abaixo da palavra escolhida, estará uma relação de passagens onde ela
aparece;
-
entre as frases ali citadas, identificaremos a da passagem que nos
interessa.
Exemplo:
Onde estará, na Bíblia, a parábola do bom
samaritano?
Nessa história, Jesus fala de um sacerdote, um levita
e um samaritano bem como de salteadores. Poderíamos procurar na chave bíblica
qualquer uma dessas palavras, para tentar localizar a parábola. Mas samaritano,
provavelmente, será aquela em que estará registrada a passagem, por ser a mais
importante e destacada.
Procurando a palavra samaritano na chave bíblica,
encontraremos:
Samaritano
Mt 10.5 nem entreis em cidades de s
Lc 9.52 entraram numa aldeia de s para
Lc 10.33 Certo s, que seguia o seu caminho
Lc 17.16 agradecendo-lhe; e este era s
Jo 4.9 os Judeus não se dão com os s
Jo 4.39 Muitos s daquela cidade..nele
Jo 4.40 Vindo..s ter com Jesus, pediam
Jo 8.48 és e tens demônio?
Entre todas essas citações, a que nos interessa, no
caso, é a de Lucas cap. 10 v.33, que destacamos.
Dicionário
bíblico
É também um livro (em ordem alfabética) que explica
termos, locais, costumes, cronologia, etc. dos assuntos citados na Bíblia.
Exemplo:
Jesus fala sobre os escribas e fariseus, em Mt 23:5:
"E fazem todas as obras a fim de serem vistos
pelos homens; pois trazem largos filactérios,
e alargam as franjas de suas vestes".
Que são filactérios?
No dicionário bíblico, encontramos:
FILACTÉRIOS, amuleto.
Tira em que se escreviam curtas sentenças do livro
da lei de Moisés, usadas na fronte ou nos braços, Mt 23.5. em geral, os
filactérios tinham a forma de uma caixinha de pequenas dimensões, feita de
pergaminho, ou de pele de foca. O filactério usado na fronte continha 4
compartimentos, em cada um dos quais se localizava uma tira de pergaminho com
uma passagem da Escritura. As 4 passagens eram: Ex 13.2-10; 11-17; Dt 6.4-9;
11.13-21. O filactério prendia-se à fronte, bem no centro e sobre os olhos, por
meio de ataduras. A outra caixinha para o braço, continha um só compartimento,
com uma tira contendo as 4 passagens já citadas. As primeiras três, serviam
para regular o proceder. Todos os judeus traziam os filactérios durante as
horas matinais de oração, exceto nos dias de Sábado e nas festas. Estes dias,
já em si possuíam elementos que dispensavam o uso dos filactários, cp. Ex 13.9.
(Therezinha Oliveira)
Curiosidade: UM EXEMPLO DE
DIVERGÊNCIA NAS TRADUÇÕES BÍBLICAS
O Salmo
19:8 -
Eis
o texto transliterado do hebraico, para análise: "torát Iahvéh temimá mshibat nafésh. 'edut Iavéh neemanoáh
machkimat péti".
Observemos as traduções existentes em algumas
Bíblias estudadas: "A lei do Senhor
é perfeita, e refrigera a alma". O testemunho de Deus é fiél, e dá
sabedoria ao simples". João Ferreira de Almeida - Bíblia protestante
da Sociedade Bíblica do Brasil.
"A lei do
Senhor é perfeita, reconforta a alma. A ordem do senhor é segura, instrui o
simples". Bíblia católica - Editora Ave Maria.
"Sim, a
lei do Senhor é sem defeito, ela conforta a alma. Seguro é o testemunho do
Senhor, torna sábios os simples". A Bíblia - Mensagem de Deus, Edições Loyola, São
Paulo, 1989.
"A lei do
Senhor é perfeita; ela devolve à nossa alma as forças perdidas. A revelação da
vontade de Deus é digna de confiança; ela dá sabedoria a quem tiver disposto a
aprender". - A Bíblia Viva - Editora Mundo Cristão. 11ª edição - São Paulo, 1999.
"A lei do
Senhor que é imaculada, converte as almas: o testemunho do Senhor é fiél, e dá
sabedoria aos pequeninos". A Bílbia Sagrada - Tradução direta da Vulgata feita
por Antonio Pereira de Figueiredo. Lisboa, 1879.
"A lei de
Iahvéh é perfeita, faz a vida voltar. O testemunho de Iahvéh é firme, torna
sábio o simples". Bíblia de Jerusalém, Edições Paulinas.
"A lei de
senhor é perfeita, ela dá a vida. A lei do Senhor é segura, torna perspicaz o
simples". A Bíblia Tradução Ecumênica, Edição Loyola, 1994.
"A lei de
Iahvéh é perfeita, faz a vida voltar; o testemunho de Iahvéh é firme, torna
sábio o simples". Tradução da Bíblia de Jerusalém, edições Paulinas, São Paulo 1985.
Esta última é a tradução mais literal, no entanto,
foge muito do sentido real do texto.
A tradução
correta, segundo o hebraico, fica então assim: "O ensinamento de Deus é perfeito, faz o espírito voltar. O
testemunho de Deus é verdadeiro, transforma o simples em sábio".
Se podemos
encontrar tanta divergência num só versículo, o que pensar com relação ao texto
bíblico completo?
Do livro: Analisando as Traduções Bíblicas, de
Severino Celestino da Silva, nasceu na cidade de Alagoa-Grande, estado da
Paraíba, em 1949. É espírita há 25 anos, defende o Espiritismo à luz da Bíblia,
como demonstra nesse livro (Analisando as Traduções Bíblicas) que dedica
àqueles que não possuindo sectarismo religioso, buscam a verdade que liberta. É
formado em Odontologia e possui curso de especialização em Periodontia,
mestrado em Clínicas Odontológicas pela Universidade de São Paulo (USP), e
doutorado em Odontologia Preventiva e social pela Fundação de Ensino Superior
de Pernambuco (FESP). É professor de ensino superior no curso de Odontologia da
Universidade Federal da Paraíba há 27 anos.
É ex-seminarista pesquisador, estudioso do hebraico
e das religiões, principalmente do Judaísmo, base de todas as religiões
cristãs. Nunca deixou de estudar a Bíblia, sempre buscando sua essência e
conteúdo divino em sua língua original, o hebraico. Apresenta nesse trabalho, a
história das "Traduções Bíblicas" e o que tem ocorrido com os textos
sagrados, desde a época de Moisés até o presente, levando você a refletir sobre
as palavras de São Jerônimo: "a verdade não pode existir em coisas que
divergem". Realizou essa obra com o máximo de respeito possível a todo e
qualquer princípio religioso. Procurou sobretudo mostrar que a "Doutrina
Espírita" possui coerência com os textos sagrados e bases espirituais nos
escritos de Moisés, dos profetas, de David e do próprio Cristo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário