Alguns
adversários contumazes do Espiritismo fazem uso da imagem caluniada de Mesmer
para atacar Allan Kardec. Afinal, o codificador estudou por 35 anos a ciência
do Magnetismo Animal e todos os seus fenômenos. Por que razão um emérito
pesquisador dedicaria tanto tempo de sua vida aos estudos de um pretenso
charlatão? Uma investigação cuidadosa dessa ciência é fundamental para não
deixar dúvidas.
Frans
Anton Mesmer percebeu a grande importância do fluido vital na recuperação e
manutenção da saúde:
A
classe médica e científica de sua época, arraigada no materialismo, não só
rejeitou como também perseguiu e caluniou o doutor Mesmer e suas descobertas.
Muitos agiram por questões pessoais. Certamente tinham medo de perder poder,
prestígio, e principalmente a preciosa remuneração dos enfermos abastados.
As
acusações feitas ao Magnetismo Animal, na maioria das vezes, deixavam evidente
a má intenção. Em seu tempo Mesmer denunciou:
“As
primeiras curas obtidas de algumas doenças consideradas incuráveis pela
medicina suscitaram inveja e produziram mesmo ingratidão, que se somaram para
ampliar as prevenções contra meu método de cura. De sorte que muitos sábios
uniram-se para fazer cair senão no esquecimento, pelo menos no desprezo, as
aberturas que realizei neste campo: divulgou-se por toda parte como impostura. Na
França, nação mais esclarecida e menos indiferente aos novos conhecimentos, não
deixei de amargar contrariedades de toda espécie, e perseguições que meus
compatriotas me haviam preparado há tempos, mas que, longe de me desencorajar,
redobraram meus esforços para o triunfo das verdades que acho essenciais à
felicidade dos homens.”(MESMER, 1799).
Jamais
os contratempos desencorajaram Mesmer. Ele estava preparado para estar à frente
das descobertas. Foi um homem obstinado, médico sábio e filósofo. Trocou uma
vida que poderia ter sido calma e honrada, pela defesa determinada de sua
descoberta, considerando-a uma questão humanitária. É uma ironia o fato de
Mesmer ter sofrido acusações de estar apenas em busca de fortuna e prestígio,
se, antes de tudo, suas posses eram suficientes para mantê-lo confortavelmente
por toda sua vida.
E
o seu prestígio, por sua vez, conquistado por uma brilhante carreira na
medicina e na cultura em geral, foi completamente abalada depois que se dedicou
ao magnetismo. Um caso constrangedor na casa de Mesmer. Diante das curas
evidentes proporcionadas pelo mesmerismo ocorriam as mais diversas reações. Espanto
e êxtase eram os mais comuns. Para alguns
médicos,
porém, a reação era de inveja e ambição. Casos constrangedores foram relatados
por Mesmer em suas obras. Vejamos um deles:
Em
Paris, Mesmer recebeu numa noite um grupo de médicos interessados na novidade
anunciada em todos os cantos da cidade. Foram recebidos com dedicação. O doutor
Mesmer era um grande anfitrião. Alguns doentes foram chamados especialmente
para a ocasião. Num salão apropriado, todos foram acomodados. Uma dúzia de
médicos formava o grupo.
Quando
estavam para iniciar os experimentos, inesperadamente um dos médicos começou a
atrair a atenção dos presentes. Advertia para o risco profissional de estarem
ali. Segundo ele, estavam colocando em perigo suas reputações quando entraram
naquela casa. – “As academias não vão ver com bons olhos sua ligação com
assuntos tão duvidosos!” – Dizia o médico.
A
situação ficou constrangedora. Os médicos discutiam em pequenos grupos. Alguns
deixaram a casa, alegando compromissos. Outros lamentaram o adiantar da hora.
Por fim, a demonstração dos extraordinários fenômenos ficou comprometida.
Enquanto
os últimos assustados doutores deixavam a residência, o médico que havia feito
o escandaloso alerta pediu a Mesmer uma conversa privativa. Dirigiram-se ao
escritório particular do anfitrião. Olhando para os lados para garantir que
ninguém os ouvia, o médico fez a sua proposta: - “Tenho um ótimo ponto em
Paris. Seria uma grande vantagem fazer uma sociedade comigo. Poderíamos ter uma
clínica bastante lucrativa. O que acha?”
Mesmer
apontou a porta de saída, indicando polidamente a evidente recusa. Em verdade,
ficou indignado com a absurda proposta. Esse médico interesseiro, no entanto,
pelo menos foi explícito em seus propósitos. Muitos outros se esconderam no
anonimato para atacar o Magnetismo Animal por trás das academias, arbítrios do
poder, difamação e calúnia.
O
que é preciso para ser um crítico sério
Um
crítico justo e coerente do mesmerismo tem o dever de agir com seriedade e
rigorosidade metódica, tudo estudando antes de considerar-se em condições de
elaborar conclusões. Basta lembrar as recomendações, carregadas do peculiar
bom-senso de Allan Kardec: “Só se pode considerar como crítico sério aquele que
houvesse tudo visto, tudo estudado, com a paciência e a perseverança de um
observador consciencioso; que soubesse sobre esse assunto tanto quanto o mais
esclarecido adepto; que não tivesse extraído seus conhecimentos dos romances
das ciências; a quem não poderia opor nenhum fato do seu desconhecimento,
nenhum argumento que ele não tivesse meditado; que refutasse, não por negações,
mas por meio de outros argumentos mais peremptórios; que pudesse, enfim,
atribuir uma causa mais lógica aos fatos averiguados”. (KARDEC, 1860, p. 271)
Para
compreender o magnetismo animal é preciso estudar, com paciência e
perseverança, todos os seus fatos. Mas também mergulhar nas obras de Mesmer
para conhecer seus argumentos, o desenvolvimento de suas idéias, as descrições
de suas descobertas, os verdadeiros fatos por ele relatados.
O
resgate dessa ciência pode auxiliar a compreensão do Espiritismo. E também
oferecer subsídios para que o materialismo abandone a medicina. Só então a
humanidade ganhará esperanças de encontrar a saúde integral para todos.
Paulo Henrique de Figueiredo
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