Qual a forma de Governo mais de acordo com a sociedade de bases cristãs de que fala “O Livro dos Espíritos” – o CAPITALISMO ou o SOCIALISMO?
O Governo é, sobretudo, o homem que o orienta, seja este ou aquele o método utilizado. Se é injusto e indigno, ele torna o processo governamental degradante.
Temos na sociedade contemporânea essas duas vertentes que se tornaram clássicas nos últimos setenta anos no mundo: capitalismo de um lado com as suas conquistas e desgraças e o socialismo do outro, com as suas promessas e decepções.
Ainda há pouco (1989) foi derrubado o muro de Berlim, demonstrando a falência do socialismo marxista, trotskista, que tanto se afigurou, no começo da revolução soviética, como sendo a esperança do proletariado. Um sistema de governo que proíbe o cidadão de usar a liberdade de escolha para onde ir é pior que qualquer ditadura que o sevicia (maltrata, tortura), obrigando-o a submeter-se às injunções arbitrárias dos títeres que o tornam desventurado. Gorbachev, levantou a biografia dos seus governantes anteriores. Stalin, que mandou aproximadamente dois milhões de pessoas para o exílio na Sibéria, era fruto espúrio do comunismo. O Khmer Vermelho do Camboja, para ficar no poder, matou um milhão de opositores, numa população de seis milhões. A revolução chinesa de Mao ceifou inúmeras vidas. Do outro lado, o capitalismo é responsável pela miséria do Terceiro Mundo, que se apresenta em condição deplorável de subumanidade, em que as mínimas reservas de energias foram negadas aos sobreviventes, num estado que se alonga ante a indiferença dos poderosos da Terra...
O grande problema ainda é o homem. Um pensador pessimista, com o qual não concordo, afirmou entusiasmado que “onde está o homem aí estão as suas misérias; tudo aquilo que o homem toca, corrompe...” Na área das religiões, por exemplo, se examinarmos o pensamento budista, constatamos-lhe uma beleza transparente. Hoje o Budismo, dividido em várias correntes, apresenta antagonismo de grupos que se entredevoram. A doutrina muçulmana, centralizada na pessoa de Maomé, tem as suas diretrizes específicas, mas os homens que os abraçaram e as dividiram fizeram do pensamento do Profeta tais ramificações, que o Líbano é um exemplo deplorável de como o indivíduo interpreta-as de acordo com as suas paixões. Vimos o exemplo do Irã, a antiga Pérsia, devastado pela personalidade cruel de Khomeiny, que teve a infeliz idéia de construir uma máquina para amputar as mãos dos ladrões, porque o braço dos carrascos ficava cansado, demonstrando que a doutrina religiosa com que pretendia salvar o mundo não dignificava nem os seus próprios meios. O Cristianismo é outro exemplo basilar. Lendo Jesus, em os Evangelhos, comove-me até às lágrimas, mas a história das Cruzadas é a narrativa da vergonha da humanidade cristã contra os mouros. Em seguida aparece Lutero, que restaura a letra bíblica asfixiada na Teologia, e não é necessário examinarmos as mais de trezentas correntes que se derivaram do luteranismo, digladiando-se, para cada uma delas ser a detentora da verdade. Veio o Consolador, e Allan Kardec, o inspirado, legou-nos uma doutrina enobrecedora, conforme se encontra nos seus livros, de fácil entendimento, e surgem novos intérpretes do pensamento kardequiano, alguns dos quais ousados e outros vaidosos, pretendendo que Kardec está superado, quando eles próprios, sequer, assimilaram o pensamento do mestre.
Na área da política o fenômeno é idêntico. Trabalha-se o homem, e teremos uma sociedade justa. Seja nobre o governante, qualquer linha ideológica de comportamento, e ele poderá construir uma sociedade feliz. Se olharmos os exemplos da Suíça, da Suécia, dos Estados Unidos, nos quais a prosperidade está à vista, encontramos bolsões de miséria moral que é muito mais destrutiva que a sócio-econômica. A Suécia é um dos campeões do mundo em suicídio. Os Estados Unidos possuem um dos mais altos índices de alcoolismo e de prostituição de menores, demonstrando que não é a forma de Governo a responsável, mas a conduta dos seus governantes e governados.
Não obstante, o Governo ideal, a sua forma política melhor, seria aquela na qual, uma democracia socialista, de raízes cristãs, concedesse aos indivíduos os direitos mínimos que eles necessitam desfrutar: trabalho, saúde, repouso, desportos, alimentação, educação e oportunidade de crescer com igualdade entre todos. Essa seria, na minha forma de entender, a filosofia política ideal para governar um povo.
Divaldo Franco
Do livro: Elucidações Espíritas
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