Um homem estava viciado em pedir favores a um
"guia". Não dava um passo sem a ajuda do protetor, que estava mais
para palpiteiro, orientando-o precariamente. Certo dia o protegido pediu amparo
mais efetivo:
-
O senhor precisa dar um jeito na minha situação. Cansei de ser pobre .
. .
-
O que quer que eu faça, meu filho?
-
Quero ganhar uma bolada no jogo do bicho.
-
É difícil . . .
-
Mas sei que pode conseguir. Por favor . . . Preciso muito! . . .
O Espírito silenciou por alguns momentos. Depois
recomendou:
-
Está bem. Amanhã jogue no número 23.492.
O protegido, todo animado, reuniu seus haveres.
Vendeu o televisor e um jogo de sofás; emprestou bom dinheiro de amigos,
apropriou-se do salário da filha mais velha e fez o jogo recomendado,
considerando, em feliz expectativa, que jamais voltaria a passar por aperturas
econômicas.
À tarde acompanhou, trêmulo, o sorteio pelo rádio. O
locutor anunciava pausadamente os números sorteados. Quando chegou a vez do
primeiro prêmio, onde repousavam suas esperanças, a tensão era enorme:
-
Vinte e três . . .
-
Meu Deus! Vai dar! Vai dar! . . .
-
Quatrocentos e noventa e . . .
-
Estou rico! Já ganhei! . . .
-
. . . três.
-
Três? Está errado! É dois!
O locutor repetiu:
-
Vinte e três mil, quatrocentos e noventa e três.
Pateticamente ele sacudia o rádio:
-
Não é três, idiota! É dois! Dois! . . . Houve engano! . . .
Telefonou para a emissora. Não havia erro. Perdera
por um algarismo, enterrando-se em dívidas e aperturas.
Correu ao "guia".
-
Uma desgraça! Joguei o que não possuía e perdi! O que houve? O senhor
recomendou 23.492. deu 23.493.
-
O Espírito respondeu, cheio de animação:
-
- Ah! Meu filho! Quase acertamos! Talvez dê certo na próxima!
Foi apenas um palpite . . .
Afaste-se de médiuns que atendem em regime de "consultas particulares".
Sem disciplina e sem conhecimento, com o agravante
de estimarem receber recompensas, são facilmente envolvidos por obsessores
interessados em semear a perturbação.
Em qualquer contato com os Espíritos, mesmo em
reuniões mediúnicas no Centro Espírita, é preciso passar pelo crivo da razão o
que dizem.
Allan Kardec destacava que os Espíritos são apenas
homens desencarnados e, como tais, sujeitos a erros de apreciação, além dos
problemas de filtragem mediúnica.
Mesmo nas condições mais favoráveis, diante de mentores comprovadamente esclarecidos e sábios, evite constrangê-los com pedidos e perguntas relacionados com interesses pessoais. Afinal, tudo de que precisamos, em se tratando de orientação de vida, é seguir os ditames da própria consciência, iluminando-a com as lições de Jesus. Usemos nosso livre arbítrio.
Richard
Simonetti